Neon Genesis Evangelion é uma série que vai além do entretenimento, mergulhando em questões existenciais e psicológicas profundas. Criada por Hideaki Anno durante um período de depressão, a obra reflete suas próprias experiências e visões sombrias sobre a humanidade. Os personagens, como Shinji, Asuka e Rei, são extremamente imperfeitos e realistas, cada um carregando traumas e inseguranças que os tornam complexos e difíceis de amar, mas também incrivelmente humanos.
A série explora a dificuldade das conexões humanas através da parábola do porco-espinho, de Schopenhauer, que ilustra como nos machucamos ao tentar nos aproximar dos outros. Os “escudos AT” dos Evangelions simbolizam as barreiras emocionais que erguemos para nos proteger, mas que também nos isolam. Shinji, o protagonista, é movido pela busca de aprovação e amor, mas sua incapacidade de se amar o impede de se conectar genuinamente com os outros, perpetuando um ciclo de dor e solidão.
O filme The End of Evangelion aprofunda essas questões, mostrando Shinji diante da escolha entre a fusão da humanidade em uma única consciência (eliminando a dor, mas também o amor) ou a manutenção das individualidades (aceitando o sofrimento como parte da vida). Ele opta pelo segundo, entendendo que o amor e a empatia só são possíveis quando aceitamos a vulnerabilidade e as imperfeições de nós mesmos e dos outros.
A série também critica o patriarcado e a objetificação feminina, especialmente através da personagem Rei, que representa um estereótipo feminino japonês subvertido. No entanto, ironicamente, Rei se tornou um símbolo de fetização na cultura otaku, demonstrando como a mensagem da série foi distorcida pelo público. Da mesma forma, Evangelion, que criticava o escapismo, acabou se tornando um refúgio para muitos fãs, algo que o próprio Anno destacou ao incluir cenas live-action no filme, quebrando a quarta parede para alertar sobre os perigos de confundir ficção com realidade.
Apesar das controvérsias, Evangelion deixou um legado cultural inegável, influenciando inúmeras obras posteriores e introduzindo arquétipos de personagens que são replicados até hoje. Sua mensagem central, porém, permanece relevante: a importância de aprender a amar a si mesmo e enfrentar a realidade, mesmo com toda a dor que isso possa trazer. A série desafia o espectador a refletir sobre suas próprias barreiras emocionais e a buscar conexões genuínas, mesmo que isso signifique correr riscos.
No final, Evangelion é uma obra que não oferece respostas fáceis, mas convida o público a enfrentar suas próprias crises existenciais. Como Shinji, podemos não saber como nos amar completamente, mas a jornada de autoconhecimento e a coragem de viver com nossas imperfeições são passos essenciais para encontrar significado na vida. Essa mensagem, sombria mas esperançosa, é o que torna a série tão atemporal e impactante.