No recente desfile militar em Pequim, um microfone aberto captou uma conversa entre Vladimir Putin e Xi Jinping sobre longevidade humana. Enquanto Putin destacou o avanço tecnológico que permitiria substituir órgãos e prolongar a vida indefinidamente, Xi comentou que talvez ainda neste século as pessoas possam viver até 150 anos. Ambos, já na casa dos 70, mostram preocupação com o envelhecimento, que se reflete em como isso impacta sua permanência no poder.
Putin leva a questão da imortalidade de forma mais séria e tem incentivado pesquisas relacionadas à medicina geriátrica e ao bioprinting, voltadas para a substituição de órgãos. Contudo, o cenário científico russo enfrenta limitações, como falta de recursos e êxodo de cientistas. Ainda assim, o presidente russo se apoia em figuras controversas, como o pseudocientista Mikil Kovaltuk, defensor de ideias excêntricas como nanorrobôs capazes de tornar humanos imortais.
Já Xi Jinping demonstra menos interesse pessoal em soluções científicas para evitar a morte. Apesar de manter hábitos pouco saudáveis e contar com acompanhamento médico de elite, sua liderança não tem priorizado pesquisas voltadas para imortalidade. Ao contrário, a China investe de forma pragmática em manufatura, energia e tecnologia aplicada a setores estratégicos, embora preserve espaço para a medicina tradicional chinesa.
A busca pela imortalidade física, no entanto, tem raízes culturais mais antigas na China. Durante séculos, imperadores e pensadores taoístas perseguiram o “elixir da vida”, com resultados trágicos: muitos governantes morreram envenenados por substâncias como mercúrio e arsênico. Essa herança acabou sendo vista como vergonhosa sob a ótica confucionista, que associava tais práticas à desonra.
Apesar disso, uma forma alternativa de imortalidade permaneceu: a imortalidade simbólica ou histórica. Líderes buscavam perpetuar-se no imaginário coletivo por meio de feitos grandiosos e da construção de um legado. Xi parece se alinhar a essa visão, concentrando esforços em restaurar a grandeza nacional da China e em projetos como a reunificação com Taiwan, buscando uma “imortalidade política” em vez de biológica.
Putin, por sua vez, parece mais obcecado em prolongar a própria vida física, quase à maneira dos antigos imperadores chineses. A diferença entre os dois revela não apenas traços pessoais, mas também visões distintas sobre poder e permanência: enquanto um persegue soluções científicas ousadas, o outro aposta em conquistas históricas e ideológicas para assegurar sua memória no futuro.
Essas ambições têm forte peso geopolítico. A longevidade — literal ou simbólica — desses líderes influencia diretamente a estabilidade mundial. Se Putin ou Xi permanecerem por muito tempo no poder, ou até buscarem meios de estender sua influência através de novas tecnologias, como a inteligência artificial aplicada à biologia e à medicina, isso moldará o futuro global. Assim, a conversa aparentemente casual entre eles carrega implicações estratégicas profundas.